A Excêntrica Família de Gaspard – França– 2017
- Fábio Ruiz
- 2 de dez. de 2018
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de ago. de 2020

Gaspard está retornando à casa, para o casamento de seu pai, quando, em situação inusitada, conhece Laura, a quem contrata para ser seu par nas festividades, mas mal sabe ela onde irá imiscuir-se e os desdobramentos de sua decisão. A tradução do título original francês, Gaspard Vai a Um Casamento, seria mais adequada, pois o adjetivoexcêntrico pressupõe uma tese que, apesar de válida, não abrange as principais nuances da trama.

O roteiro de Antony Cordier, autor do belíssimo À Flor da Pele, é, ao mesmo tempo, de lirismo e de comicidade acentuados, quase uma poesia cinematográfica em torno do reencontro de uma família que mora em seu zoológico. Gaspard e seus irmãos Virgile e Coline, junto ao seu pai, Max, remontam suas trajetórias até o presente e, ao mesmo tempo, precisam considerar seus futuros, com base em conjecturas da atualidade, traçando um paralelo entre os animais selvagens do zoológico e suas próprias vidas, agora, invadidas pela presença da estranha Laura, e pela realidade cão do mundo atual. A excentricidade existe como um belo pano de fundo para as transformações da família, que precisa abandonar seu passado lúdico, cedendo lugar a modernidade que não mais os favorece, em contundentes conflitos, nos quais aos poucos renunciam a suas histórias, a suas personas, aos seus bens, para viverem novas aventuras, expondo cenário cada vez mais frequente do mundo na faixa de velocidade, onde tradições, hábitos e culturas são, rapidamente, suplantados por novas realidades.

A direção, também de Cordier, é belíssima, parece desenhar imagens com tomadas e sequências originais que deslumbram o espectador, vide as cenas na sala da casa com a bola de espelho iluminada em vermelho e a dos filhos caminhando atrás do pai no campo antes do amanhecer com lanternas acesas nas mãos. Félix Moati, o Gaspard, Laetitia Dosch, a Laura, Christa Théret a Coline, Guillaume Gouix, o Virgile, Johan Heldenbergh, o Max, e Marina Foïs, a Peggy, namorada de Max, formam um elenco coeso, com talentos distintos, mas harmônicos. A fotografia coaduna, perfeitamente, com a direção, trabalhando os desfoques proficientemente, principalmente nos flashbacks, as imagens são impressionantes. A música acompanha a trama com muita oportunidade, acentuando o lirismo e a comicidade, há uma bela cena dos irmãos dançando que se destaca. A arte também tem função lírica e a edição é muito boa.

Uma comédia familiar que transcende para uma crítica à sociedade e a humanidade sem pieguices ou dramalhões desnecessários. Vale a ida ao cinema. PS: Em cartaz.

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