Como você, jovem, se sentiria se sua família te impedisse de fazer tudo que é natural na sua idade e tudo que seus amigos fazem?
Pois é essa questão que o candidato da Noruega a uma vaga no#Oscar2019, e o segundo trabalho da diretora e roteirista paquistanesa, Iram Haq, - que vivenciou experiência semelhante a da sua protagonista- nos apresenta em uma obra incômoda, atual e, por isso, muito impactante.
Inteligentemente a diretora constrói seus dois atos situacionais que focam a mesma problemática: a castidade da mulher em países diferentes, mas sob a mesma cultura patriarcal arcaica e, ainda que possa parecer bizarro e inverossímil para mentes menos aculturadas, infelizmente trata-se de uma realidade que milhares de mulheres e jovens sofrem silenciosamente ao redor do mundo.
Ao trazer para as telas a estória de sua personagem, uma jovem absolutamente normal vivendo na evoluída Noruega, porém sob a ditadura de uma pequena comunidade paquistanesa, uma família, dividida entre adaptar-se aos costumes locais ou abrir mão de seus valores ancestrais onde a igualdade de gênero é inexistente e, até mesmo, as próprias mulheres mais velhas defendem ferrenhamente valores como tradição e honra familiar mantendo um núcleo de imigrantes com forte conotação sexista, Haq, desenvolve uma estória de terror em grande estilo, repleta de armadilhas, tensões e abusos emocionais que faz com que o expectador fique conectado a ela do início ao final.
Saindo totalmente da cansativa narrativa hollywoodiana,#WhatWillPeopleSay, ousa apresentar diálogos em Urdo ( língua do Paquistão), introduz uma “desconhecida” como protagonista, atores paquistaneses e indianos para trazer à baila discussões sobre conflitos de gerações e culturas, sem tomar partido, apresentando uma dubiedade que nos mostra não só o sofrimento da adolescente sequestrada, mas também a agonia dos pais e parentes em trazê-la de volta aos seus valores comportamentais a qualquer custo.
Haq que demonstra total domínio com sua câmera cria também uma heroína rebelde para que possamos nos indignar e torcer muito por ela, mas ao mesmo tempo, também a veste com uma passividade inocente que nos faz sentir na pele os seus mesmos e muitos constrangimentos, embora dificilmente consigamos prever suas ações ou mesmo descobrir o que vai em sua cabeça, uma vez que, nos fica claro, através da potente atuação da estreante Maria Mozhdah que, sua personagem, oscila entre a vida que sonha para si e o medo, o respeito pelos pais e a cultura que foi criada.
Com belíssima fotografia contrastando os azuis gelados da Noruega e os dourados quentes do Paquistão, esse drama claustrofóbico (sem nenhuma violência física), sobre os direitos das mulheres, a adaptação dos imigrantes, os deveres para com a família e a infelicidade de se preocupar demais com o julgamento comunitário, é uma peça comovente que, deveria ser visto pelo mundo todo e, talvez, propiciar maiores diálogos entre gerações, evitando chegar à beira de precipícios.
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