Meu Anjo é um daqueles filmes difíceis de se analisar, guarda pontos muito positivos, outros, muito negativos, é interessante e, ao mesmo tempo, desinteressante. Dicotômicos são os sentimentos e percepções ao fim da projeção. Meu Anjo trata da relação mãe e filha, Marlene e Elli, permeada pelo egocentrismo exacerbado da primeira, percebido nos primeiros minutos de projeção. Contudo, a espinha dorsal dramatúrgica deslancha somente ao abandono da menina, e mais do mesmo, que configuram o péssimo caráter materno, que não evoluem a trama em detrimento de conflitos e tensões que embasariam melhor o seu desenvolvimento e os sentimentos de Elli por Julio, são exibidos, postergando demasiadamente o princípio de sua evolução.
Por outro lado, a atuação de Marion Cotilllard, como Marlene, é impressionante, talvez a sua melhor, criando uma mãe odiosa, que mais parece as madrastas dos contos de fadas, e que, talvez, justifique o esgarçamento desnecessário da introdução. Ayline Aksoy-Etaix, como Elli, está excelente, mas muito é exigido de uma menina estreante no cinema, que acaba por comprometer o seu trabalho. Alban Lenoir cria, com Julio, um belíssimo contraponto à Marlene, e um porto seguro para Elli, mas que também fica prejudicado pelo longo prelúdio. Vanessa Filho traz belíssimos enquadramentos e tomadas, e conduz muito bem os atores, especialmente Marion; a fotografia é excepcional, a música agoniza ainda mais a trama; e a edição e a arte são excelentes.
Um drama contundente, desnudando as não-relações parentais, a incapacidade de alguns de serem mães ou pais, a implacabilidade dos exemplos que levam os filhos a repetirem os comportamentos destrutivos dos progenitores, a carência, a ausência de amor, o egoísmo ao limite e suas consequências, bem como a casualidade de sentimentos de onde menos os se espera, é que nos apresenta Vanessa Filho com o interessante Meu Anjo. Vale assistir.
PS: Em cartaz. TRAILER