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  • Foto do escritorFábio Ruiz

Hannah – Itália – 2017

Atualizado: 22 de ago. de 2020


Produção italiana, em francês, do ano passado, dirigida por Andrea Pallaoro, por ele e Orlando Tirado escrita, Hannah, finalmente, chega às telas brasileiras. Com uma dramaturgia singular, o enredo expõe fragmentos da vida da personagem-título, sem pudores, revelando não somente sua história, como também seu estado de espírito.

O belíssimo e original roteiro ousa ao ilustrar a estória, ao invés de contá-la, e lançando mão de cenas-representações desnuda, metafórica e literalmente, Hannah. Com certeza, muitos não perceberão o encanto em sua forma e, muito possivelmente, também, sua narrativa solapada nos longos, lentos e significativos quadros da vida da personagem, que, sutilmente, recontam, de uma trama complexa, todos os detalhes, que elucidam os mistérios dramatúrgicos. O espectador mais sagaz, ligará os pontos e, satisfatoriamente, estabelecerá o fio condutor pelas migalhas de pão que roteiro e direção, cautelosamente, embutem no cenário, exatamente, com essa finalidade. O mais atento, conceberá, por exemplo, porque o marido de Hannah está preso, entre outros segredos, que a personagem luta para esconder, com as peças do quebra-cabeças que ao longo da projeção são reveladas, tudo, com pouquíssimos, ou quase sem diálogos, e evoluirá, dramatúrgica e emocionalmente, ao clímax nos segundos finais, quando a personagem, no limiar, titubeia em dar passos a mais.

A direção de Andrea Pallaoro, apesar de pouco experiente, é irretocável, presenteando o espectador com belíssimos quadros, atuações mais do que contundentes, e inclemência atroz. Charlotte Rampling, vencedora do prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza de 2017, solidifica o escalão superior aos outros – esqueçam Frances McDormand –, onde, sozinha, reina humildemente. Nenhuma outra atriz, na atualidade, conseguiria fazer funcionar a cena, aos prantos, da protagonista no banheiro como ela o fez. O elenco coadjuvante é excelente, destaque para o menino Simon Bisschop, no papel do filho da patroa de Hannah. A fotografia é belíssima – atentem às cenas da personagem caminhando na névoa em direção a um beco e deitada, em sua cama, no escuro; A música, oportuníssima, é fascinante, perfeita nas pausas e coaduna, como uma luva, com a dramaturgia. Os cenários e figurinos não poderiam ser melhor escolhidos e a edição é ótima.

Um pungente tratado acerca das relações humanas e dos rigores da vida, Hannah, embora difícil e penetrante, é uma ode à resiliência do ser-humano imerso em asperezas que, consecutivamente, pelejam, inclementes, para asfixiá-lo em um mundo onde redenção parece rarefeita. Não perca.

PS: Em cartaz.

TRAILER

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