Quando estreou no Festival de Cannes/2017, este trabalho veio acompanhado de inúmeros protestos por conta de seu co-roteirista e diretor, Roman Polanski, e a acusação que o persegue. Assim, já era esperado que o talentoso diretor nadando em maré contrária assinasse uma obra, no mínimo, do mesmo nível de O Escritor Fantasma ou Deus da Carnificina, recheada com os mesmos parâmetros de Thriller de intrigas, suspense psicológico em ritmo de desespero e seus geniais desdobramentos que distorcem ou revertem à narrativa até o surpreendente como lhe é peculiar.
Em sua última obra, A Pele de Venus (2013), ele já utilizara a arte como elemento de crise existencial do artista e, agora, aproveita o mesmo plot só que trazendo-o para a literatura , utilizando a mesma artimanha da metalinguagem como fio condutor, brincando com a realidade e o pressuposto imaginário do subconsciente na configuração da formatação do “ o duplo”, tema já explorado e até recorrente no cinema. Nada de errado até então na proposta – mesmo não sendo original- se, a imprescindível tensão do estilo gerasse a essencial imersão do espectador através da credibilidade da estória.
Infelizmente, não é o que acontece em “D’Après une Histoire Vraie”, pois o estratagema é facilmente detectado pelo público (pensante), se não, logo no início, mas com certeza já pelo seu meio através das inverossimilhanças e as reviravoltas ficam previsíveis numa sucessão de cenas que se tornam descartáveis e até mesmo clichês do gênero uma vez que a “charada” fica evidente cedo por demais fazendo com que todo desenvolvimento torne-se monocórdio. E sim, isso soa estranho vindo de um mestre no estilo.
Técnica e esteticamente percebe-se com muita clareza a assinatura do diretor em seus planos médios e primeiros planos mesmo que a trilha sonora de Alexander Desplat venha insistentemente em socorro do suspense enquanto Emmanuelle Seigner e Eva Green buscam achatadamente encontrar alguma profundidade em rasas personagens em meio a algumas referências de gênero – algumas bem trabalhadas outras nem tanto-, até que os grandes (nem tão grandes assim) mistérios se elucidem na cena final sem trazerem nenhuma surpresa. O que houve, Polanski?
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