Tomo, uma pré-adolescente de onze anos, é, mais uma vez, abandonada pela mãe e vai morar com seu tio Makio, que agora se encontra em um relacionamento com Rinko, uma transexual finalizando o seu processo de transformação. Em seu novo lar, a menina encontrará um cenário completamente diferente de seu costume e imergirá em contextos de sexualidades, identidades, relações de amor versus relações de parentesco, que impulsionarão e aprofundarão seu processo de amadurecimento.
Uma trama sem pieguices ou melodramas exagerados nos apresenta Entre-Laços, que articula questões, principalmente, sobre os vínculos que nos unem, confrontando aqueles inerentes e inevitáveis, que, por vezes, são os que nos atormentam e diminuem, com os que são formados nas vivências, que, muitas vezes, escolhem-se em detrimento dos primeiros. A convivência de Tomo com Rinko e Makio irá introduzi-la às relações de amor e suas premissas, o cativar, o cuidar, o proteger e o respeitar de ambos os lados; à diversidade de identidades e sexualidades e à implacabilidade do preconceito.
A direção é firme, estampando o tom de austeridade e, simultaneamente, de sensibilidade que permeiam o filme e as personagens, além de apresentar belíssimas tomadas que exploram o cenário nipônico com delicadeza, vide a cena das personagens principais passeando em bicicletas em meio a um jardim de cerejeiras. Tôma Ikuta está excelente como a transexual Rinko, a menina Rin Kakihara emociona no papel de Tomo, Kenta Kiritani completa muito bem o trio protagonista e os atores coadjuvantes são competentes. A fotografia é bonita, como também a música e a arte.
Reflexões sobre os laços de família, que podem, ou não, ser também de amor, e as ausências de afetos como berços do preconceito é o que defende o filme escrito e dirigido por Naoko Ogigami, nos impelindo à reflexão sobre nossos relacionamentos, inerentes ou não, e sobre a natureza de nossos preconceitos. Vale assistir.
PS: Em cartaz
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