Em tempos que a série “The Handmaid's Tale” inicia sua segunda temporada e já anuncia uma terceira, e depois de claro, termos lido o livro, não há cinéfilo que não fique em cócegas para conhecer a primeira adaptação do livro para às telonas feita em 1990. Nosso intuito aqui, não é comparar duas obras muito distintas, embora baseadas no mesmo livro, posto que uma, no formato de seriado tem mais tempo para explorar as nuances da história e a outra, feita há 28 anos atrás, é um longa com apenas uma hora e quarenta minutos. Isto posto, qualquer comparação entre os dois formatos seria totalmente inócua ainda que impossível não as associar...
A verdade é que o filme em questão, mesmo sendo apresentado no Festival de Berlim, teve pouquíssimo alcance e rapidamente foi relegado ao ostracismo, muito provavelmente porque o mundo não estava preparado para um futuro tão distópico que, hoje, infelizmente, bate a nossa porta provocando um furor pelo seriado por sua impressionante contemporaneidade. Na época do lançamento, poderia ser visto como ficção muito embora tenha sido erroneamente divulgado como um “filme erótico”, onde não há erotismo algum; nem para a época.
Contando com um elenco de peso, (Faye Dunaway, Robert Duvall, Natasha Richardson e Aidan Quinn), e sob a direção de Volker Schlöndorff, senhor de uma filmografia extensa e de respeito, a obra literária de Margaret Atwood lançada em 1985, é transposta com fidelidade, mas vários aspectos da direção de atores parecem mal trabalhados ao excluir a premissa assustadora inserindo uma leveza e até certa naturalidade diante das situações que não condizem com a narrativa. A opção pela narração linear também confere ao filme um cunho televisivo embora as questões principais sejam enfocadas, pese o final desarticulado da obra original.
A direção explora a beleza de Natasha Richardson, através de vários closes e planos médios ainda que ela seja incapaz de projetar os horrores da situação, o design de produção cria ambientes iluminados e abusa dos tons brancos em desacordo com a trevosa situação, os figurinos estão de acordo na composição das cores, enquanto o ritmo capenga, ora aqui, ora ali, por conta do roteiro austero por demais que opta por uma assepsia que beira a indiferença na passividade dos personagens centrais comprometendo em muito o envolvimento do espectador com a trama.
Ainda assim, #ADecadênciadeumaEspécie, é um filme que, apesar de suas falhas conceituais, merece uma visita dos cinéfilos de plantão pela relevância temática e pela série que ora mobiliza o mundo.
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