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Foto do escritorFábio Ruiz

Ciganos da Ciambra – Itália – 2017

Atualizado: 21 de ago. de 2020


Pio é um adolescente de treze anos, mora na Itália, mais especificamente em Ciambra, na Calábria, e descende de uma linhagem de ciganos, agora estabelecidos na localidade. Quando seu pai e irmão são presos, tacitamente, ele assume a responsabilidade pelo provimento da família.

Uma história linear, mas cativante, é o que nos apresenta o roteiro de Jonas Carpignano, que aborda com simplicidade e sapiência as expectativas, ambições e faculdades de Pio ao se ver arrimo da família, mas, mais do que isso, analisa os efeitos da permanência na cultura cigana, organicamente nômade, e de suas interações com um mundo que não os pertence e ao qual não pertencem, a Europa, o primeiro mundo, e com outros párias estabelecidos na região, como os imigrantes africanos de diferentes regiões. Através de Pio, entendemos as relações hierárquicas de poder nas famílias ciganas, as relações interculturais entre ciganos e imigrantes africanos ou europeus italianos e a cultura familiar, onde a infância é relativa, e crianças são crianças apenas quando a sobrevivência é secundária e que, desde muito jovens, já fumam, entendem a malícia do mundo e a ilegalidade das atividades familiares, com as quais colaboram conforme o necessário. Vemos Pio abrir mão de sua inocência e suas reais origens, o cigano e o cavalo livres, em prol das idiossincrasias do sedentarismo.

A direção é excelente, com tomadas e aproximações interessantíssimas, vide a cena de Pio chorando com a cabeça deitada no ombro de Ayiva. Pio Amato no papel de Pio está excelente, apesar da personagem levar o seu nome, não é menos personagem e o menino faz um ótimo trabalho com ela. Koudous Seihon também excelente no papel de Ayiva completa o elenco principal e os coadjuvantes são, em maioria, da simpática e contagiante família Amato. A fotografia é excelente, especialmente em tomadas noturnas e escuras, como também são a edição a música, apesar da última lembrar muito a do filme alemão Queda Livre. Os quesitos de arte são competentes.

Um olhar sensível e preciso sobre uma Europa esquecida e proscrita é o que Ciganos da Ciambra apresenta, sob a perspectiva contundente e carismática de Pio, em um filme produzido por, entre outros, Martin Scorcese e candidato da Itália a uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, que, infelizmente, não aconteceu, muito provavelmente, por não ser um filme politicamente correto. Mas desde quando alguma coisa ou alguém nesse mundo é? Imperdível.

TRAILER

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