Após escrever o seu último romance, Delphine Dayrieux, uma escritora de sucesso, é aclamada pelo público que anseia por seu autografo em enormes filas. Entre eles, Elle, uma escritora fantasma, que admira o seu trabalho e aproveita de sua fragilidade durante gênese de seu próximo livro, para se aproximar até se tornar íntima e infernizar sua vida e o seu processo de criação.
A trama é interessante e carrega marcas de Hitchcock, de Kubrick, de Stephen King e de seu livro Louca Obsessão, adicionando suspenses entre o real e o ficcional; questões filosóficas sobre a ficcionalidade de nossas realidades, dos discursos do eu, entre a Delphine, escritora da ficção, e a Delphine, escritora na ficção, enfim, entre as Delphines, De Vigan e Dayrieux; e, finalmente, sobre fragilidade de nossas identidades, em um mundo onde, mais e mais, vive-se na virtualidade, que podem, facilmente, ser açambarcadas e mimetizadas maliciosamente ou não.
A direção de Roman Polanski é proeminente, ressuscitando o genuíno suspense; trazendo, como o roteiro, impressões,de Htichcock com explícitas referências técnicas a filmes como Um Corpo que Cai, Rebecca, A Mulher Inesquecível e Janela Indiscreta; e retomando o clima de suspensão e ansiedade tão presentes em obras marcantes do gênero, como Psicose. Alguns enquadramentos, de baixo para cima, de Elle são imponentes.
As protagonistas, Eva Green, como Elle, e Emmanuelle Seigner, a Delphine, estão em atuações convergentes, potencializando o clima de tensão esperado. Vincent Perez está competente em papel coadjuvante. A fotografia se coaduna perfeitamente à direção, a música de Alexandre Desplat é magnífica e a arte e a edição são excelentes, acentuando o tom do diretor.
O filme merecia, nitidamente, diferente recepção do público e da mídia. Infelizmente, fatos reais de um passado remoto e movimentos questionáveis de um presente incerto enevoaram a obra que, marginalizada, não alçou potenciais voos, que jamais veremos ou elucubraremos. Contudo, depois de tantos aplausos por Busca Frenética, O Pianista, Tess, Chinatown, Repulsa ao Sexo, O Bebê de Rosemary, entre outros, soa um tanto hipócrita o silêncio por Baseado em Fatos Reais. Mas o que é real? E a quem cabe julgar e condenar? Não atire a primeira pedra, assista, vale e muito.
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