Se você é mulher e acha que é coisa do passado muito remoto cuidar da casa, lavar, passar, cozinhar, cuidar dos filhos, marido, sogro e precisa da permissão do maridão até para discutir a possibilidade de ter a vontade de trabalhar fora e tem que se submeter à autorização dele para o sim ou não, está enganada. Se você, mulher, pensa que, talvez, tais coisas sejam “possíveis apenas em países ditos “não desenvolvidos” e que a Suíça, conhecida por seu desenvolvimento sócio-cultural, o patriarcado é coisa há muito abolida, então você precisa assistir o candidato que a Suíça enviou para apreciação do Oscar 2018. É muito provável que se surpreenda, mesmo que seja do sexo masculino, com o incrível fato de que os suíços não permitirem às mulheres o direito ao voto- e de abrirem uma simples conta bancária- até a década de 1970, cinqüenta anos depois da América. Pasmem! Escrito e dirigido por Petra Volpe, abre com imagens de arquivo sobre eventos libertários que ocorreram na América entre 1969 e 1971(Woodstock, protestos contra a Guerra do Vietnã, discursos inflamados sobre os direitos femininos), saltando rápido para uma aldeia em um dos cantões suíços onde nenhuma modernidade tinha eco e as mulheres eram subjugadas por toda sociedade, inclusive por outras senhoras que desejavam que a rotina continuasse assim para não contrariar a Ordem Divina! Com um discurso muito diferente do ótimo “As Sufragistas” de 2015, acompanhamos uma dona de casa (a ótima Marie Leuenberger) que, aos poucos, vai se rebelando contra essa situação passando a promover uma pequena rebelião doméstica que acaba influenciando toda a aldeia, gerando um até que bem cômico motim. A inteligente narrativa aposta em situações que beiram o ridículo para reforçar a ênfase da bizarra condição feminina, preferindo um tom levemente cômico e, se não erra a mão com esse artifício, acaba tornando-se muito, mas muito previsível em seus simpáticos 90 minutos que evita, de todas as formas, adotar um tom mais apologista. Ainda que o elenco de apoio nos traga personagens e atuações interessantes em suas particularidades e, a câmera de Peta nos presenteie com belas tomadas e alguns bons diálogos inteligentes, a complexidade das questões acaba diluída perdendo a profundidade merecida e o apelo emocional, ainda que nos conte e nos leve de maneira agradável pelo espinhoso caminho da emancipação feminina; assunto tão em voga no momento. “#TheDivineOrder” tem data de estreia prevista no Brasil para Dezembro/2017 e merece sim ser visto, até por sua relevância temática e histórica.
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