Baseado no livro autobiográfico, Un Sac de Billes, a refilmagem do clássico de 1975, conta-nos sobre um momento da Segunda Guerra Mundial visto pelos olhos de duas crianças judias. Por essas curtas linhas, qualquer cinéfilo já se lembrou do ótimo “Adeus Meninos” de 1987, não é mesmo? Mas as referências e até as excelências param por aí. As Uma hora e cinqüenta e dois minutos de “road-movie”, sutilmente dividida em três atos, deixam a sensação de que a história poderia ser mais condensada em seu miolo encurtando um pouco a narrativa ainda que o duo de irmãos protagonistas seja talentoso e cativante durante a dura transição da inocência infantil para a maturidade forçada pelas agruras reais. Pontos positivos para alguns toques de humor ingênuo, para a perfeita reconstrução de época, figurinos e, negativos, para algumas poucas cenas sem explicação lógica ou histórica, mas as perfeitas alternâncias na paleta de cores da fotografia vão compensando esses deslizes fazendo com que nos aproximemos não só do drama, mas também da aventura de forma muito pessoal e envolvente motivados pela gravidade da trilha sonora que mantêm o pico de tensão com eficácia. Com uma câmera que trabalha bastante bem os close-ups (principalmente no primeiro ato), alternando para belos planos abertos, “Um Saco de Bolinhas de Gude” vai configurando-se em um trabalho repleto de subtemas, mas que mistura bem lirismo e simbolismo criando um arco maior de dramaticidade em questões como vínculo afetivo entre irmãos, família, adaptação e, principalmente, a resiliência. Sem conseguir alçar um patamar de obra prima cinematográfica, essa história real, narrada na primeira pessoa, essa jornada infantil por um momento histórico, consegue facilmente encantar, entreter e até emocionar o espectador despertando uma enorme vontade de ler o livro e conhecer mais sobre suas delicadas entrelinhas.
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