Ricamente ambientado nos anos 20, com um requintado figurino e ótima fotografia, esse drama com ares de comédia que transita pelo surrealismo, tem incontáveis méritos e alguns deslizes na estrutura narrativa. Inspirado na vida da terrível cantora de ópera americana, Florence Foster Jenkins (vamos vê-la na pele de Meryl Streep este ano), tem na magnífica performance de Catherine Frot seu ponto mais alto. O ponto fraco deste trabalho, muito além do interessante, está gama de personagens e subtramas que são mal desenvolvidos e largados pelo caminho do roteiro sem maiores porquês, mas o de profundis de uma mulher delicada, sonhadora, amante da música e sem um mínimo de senso de ridículo é espetacular. A divisão da narrativa em cinco capítulos funciona bem como urdidura da situação, onde o riso acontece, mas com grandes doses de encabulamentos e constrangimentos pela personagem principal envolvida em sua extenuante e sublime jornada em devaneio de diva da ópera mundial. O vencedor de quatro prêmios César ( Oscar francês), mantém seu pico de tensão de forma interessante, passeando sobre a questão se devemos falar a verdade e destruir uma ilusão, ou se devemos nos calar e prol do sonho de outrem. A sensação que nos fica, ao final, é que sempre estamos prontos para rir dos outros, mas nunca de nós mesmos. Embora longo, “Marguerite” trabalha com a “vergonha alheia” de forma genial e é uma dessas delícias "desconhecidas" que o cinema Frances nos traz e que merecem ser apreciadas e degustadas em auto-reflexão.
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