Fábio Ruiz

30 de dez de 2018

Diamantino – Portugal – 2018

Atualizado: 6 de ago de 2020

Diamantino é o astro do futebol português. Às vésperas da final do mundial, em seu iate, se depara com um bote de refugiados tentando chegar à Europa a quem ajudam. Contudo, uma das mulheres resgatadas, traumatizada com a morte de seu filho na travessia, abala sua confiança, fazendo-o perder a final e desistir da carreira de futebolista.
 

 

 
O roteiro e a direção de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt operam na paródia, para fazer uma crítica político-social, fazendo uso intensivo de metáforas. Contudo, nem alcançam o potencial almejado, ainda operando em paradigmas realistas, quando maiores extrapolações poderiam ter sido utilizadas, nem suas críticas fazem uso inteligente de metáforas, sendo óbvias, subestimando o espectador como a alegoria de povo no próprio filme.

O texto até aponta na direção de Mário de Andrade, quando tenta posicionar o Diamantino como um anti-herói, um futebolista, absurdamente rico e famoso, não à toa a personagem carrega muitas semelhanças com Cristiano Ronaldo, mas, intelectualmente incapaz, dependente e quase estúpido. De Macunaíma, carrega apenas a ingenuidade, um tanto marota, e a transformação física, quando a personagem adquire seios devido a experiencias genéticas, mas perde a malícia bucólica com a qual a de Mário fazia críticas contundentes à sociedade. Diamantino, além de personagem, também é um intenso narrador em “voice over” privando muito o espectador da experiência da revelação. Entretanto, apesar da puerilidade de Diamantino, Carlotto Cotto é o único que consegue exorbitar ao fantástico do filme, transitando pouquíssimo pelo realismo, em excelente atuação.
 

De resto, o enredo, busca, sem alcançar, uma paródia fantástica, que descamba para o pastelão, lembrando os filmes dos Trapalhões da década de oitenta. As críticas são óbvias e superficiais, ao Trump, com referências explícitas, quando a personagem vaticina “vamos fazer Portugal grande novamente”, e, visual e didaticamente, do muro ao redor de Portugal para impedir a entrada de imigrantes, ou ao Brexit, com alusões a questões para saída do país lusitano da UE. A metáfora dos políticos totalitários, feita na ministra paraplégica, é um tanto inoportuna, com o uso de sua deficiência para denotar as desses. No mesmo sentido, a composição da personagem Rahim, pela personagem Aisha, de um refugiado adotado pelo jogador, como um deslumbrado idiota é um tanto preconceituosa. O resto do elenco não alcança o tom fantástico, pouco exorbitando em suas atuações, a menos de ocasionais figurinos inusitados, construindo suas personagens mais em paradigmas realistas quando o texto tenta apontar em outra direção.

A fotografia um pouco fora da realidade e um tanto granulada, ocasionalmente, tenta, sem muito sucesso, suprir elementos fantásticos à trama. Música e arte são boas, e a edição é ótima.
 

 

 
Diamantino intenta muito, mas alcança pouco. O cinema já foi capaz de críticas mais contundentes e mais sutis. Finalmente, não se pode deixar de observar a exploração do físico do ator pela personagem, que, frequentemente, aparece de cuecas ou sem camisa, preconizando nudez que alcança no final, sem qualquer embasamento dramatúrgico, apenas estético.


 

TRAILER

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